fecha as janelas. tranca de vez as portas. apaga os mapas. não basta deixá-los fechados numa arca. queima as palavras. deixa de procurar respostas nas entrelinhas. ignora todos os avisos. desliga todos os cabos que alimentam memórias. aceita que as coisas nunca farão sentido. destrói todas as recordações. agarra-te à certeza de ter sido apenas uma ilusão. corta os laços que te serviram de rede. esquece de vez que foram eles que te permitiram ser quem és. arranca aí de dentro tudo o que nos pertence. repete que é tempo de mudar. acredita que é só questão de ver as coisas como eles são. ou foram. friamente. tranca todas as emoções. fecha-te na tua muralha. convence-te que é tempo de reparar as frestas. de reforçar os muros para impedir qualquer ataque. de lhe pintar as paredes de branco frio. lá do alto traça outras rotas. olha para longe, muito longe e foge dos sons que ainda tocam na tua cabeça. faz outros planos. muda tudo. ignora o coração tonto. deixa-o sofocar no pó. mantém-te no plano racional. deixa-te encantar pela ideia de segurança. que por muito que feches os olhos, e fujas apressada, no interior - onde habitámos de verdade - a semente insistirá em florir. em renascer. uma e outra vez, ignorando sempre a razão. talvez um sinal. talvez.


(continua)

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