Quando chegou a notícia acreditei
que a tua morte me seria indiferente. Tudo o que me ocorreu foi tratar das
questões práticas. Aquilo que tinha
de ser feito. Queria saber o como, o quando e o onde. Queria respostas frias. Sem sentimentos. Sem dramas. Queria
que a distância entre nós fosse a mesma que me separa de qualquer estranho. Não
quis despedir-me. Achava que a nossa despedida já tinha sido feita há demasiado
tempo. Para mim eras um assunto resolvido. Os dias foram passando e sei agora
que estava errada. Sei agora que apenas te tinha arrumado numa das minhas
gavetas, como quem acreditasse que um dia havíamos de arrumar a casa. Talvez
até de trocarmos ideias sobre isso da paternidade. Quando fosse mais velha. Mais
madura. E havia tanto tempo. Pelo menos na minha cabeça. Não pensei que
pudesses partir tão cedo. E agora, à medida que o tempo passa, sei que nunca nada
será o mesmo. Sei que não voltarás a escrever-me a cada aniversário. E que no meu
telefone não voltará a aparecer o teu nome. E isso é estranho. Pensar em tudo o
que ficou por dizer e perceber que o que sempre nos uniu foi o silêncio. Quando
o que mais querias era ouvir-me. E conhecer-me. Como se não soubesses desde
sempre que sou demasiado parecida contigo. Apesar de sempre ter acreditado que
esta distância seria o suficiente para o esconder. Talvez assim nunca saibam
onde fui buscar esta minha metade.
Esperava que um dia tivesses conhecido as minhas questões. Aquelas que nunca
tive forças para deitar cá para fora. No fundo porque nunca arranjei coragem de
ouvir as tuas respostas. Ou para que as sentir como verdadeiras. Assim como
sinto agora a tua presença a cada vez que me olho ao espelho. A verdade é que nunca
pensei que pudesse sentir a tua falta. E agora, sei que nunca serei capaz de olhar
o mar sem me lembrar de ti (e do que podíamos ter sido).
maravilhoso.
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