"A vida é o que fazemos dela.
As viagens são os viajantes.
O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos"
É chegado o dia em que partimos. Fazemos as malas e vamos à aventura. Não interessa para o caso a distância que nos separa de casa. É a mais a necessidade de partir. De fechar a porta que nos recebe todos os dias. O desligar das rotinas. A busca por algo novo. Que nos desperte os sentidos. Ou nos adormeça as dores. Viajar não é mais que um reencontro. A eterna descoberta do eu que teima em esconder-se na passagem dos dias. Todos iguais. Muitos deles cinzentos. Como se insistisse em ver diariamente o mesmo filme, já sem cor, e cujo final nada traz de novo. Mas partir traz-nos de volta a esperança. A crença de podermos enfim quebrar as amarras. Deixar para trás aquilo de que não precisamos. Levar na bagagem apenas o que nos aquece o coração. As músicas que há muito deixámos de ouvir. Os livros que não temos tempo de ler. Os blocos de notas – novos em folha – cuja estreia fomos adiando. O papel das cartas que nunca mais escrevemos. As moradas dos amigos que se colaram ao peito mas para os quais nem sempre encontramos as palavras certas. No momento em que lhes é devido. Viajar para mim é também isto. Pagar dívidas eternas àqueles de quem mais gosto. E lembrar-me daquilo que me faz falta. Ou de quem me faz falta. E lembrar-me de mim. Perceber que há muito demasiado tempo me esqueci de olhar aqui para dentro. Para o local onde guardo os sonhos. A caxinha onde escondo tudo aquilo que gostava de ter sido mas não tive (ainda) coragem. Vajar é parar um instante (vários instantes!) e (re)orientar a rota. Passou tanto tempo desde a última paragem que tenho dificuldade em saber sequer onde estou. Ou quem sou. Há muito que me voltei a perder e procuro agora novos atalhos para o meu destino. Haverá tempo, dizem-me, e isso chega-me para acreditar hei-de lá chegar.
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