para te manteres vivo - todas as manhãs
o mesmo fazes com a alma - puxas-lhe o brilho
regas o coração e o grande feto verde-granulado
deixas o verão deslizar de mansinho
para o cobre luminoso do outono e
às primeiras chuvadas recomeças a escrever
como se em ti fertilizasses uma terra generosa
cansada de pousio - uma terra
necessitada de águas de sons afectos para
intensificar o esplendor do teu firmamento
passa um bando de andorinhas rente à janela
sobrevoam o rosto que surge do mar - crepúsculo
donde se soltaram as abelhas incompreensíveis
da memória
luzeiros marinhos sobre a pele - peixes
que se enforcam com a corda de noctilucos
estendida nesta mudança de estação
Al Berto
regas o coração e o grande feto verde-granulado
deixas o verão deslizar de mansinho
para o cobre luminoso do outono e
às primeiras chuvadas recomeças a escrever
como se em ti fertilizasses uma terra generosa
cansada de pousio - uma terra
necessitada de águas de sons afectos para
intensificar o esplendor do teu firmamento
passa um bando de andorinhas rente à janela
sobrevoam o rosto que surge do mar - crepúsculo
donde se soltaram as abelhas incompreensíveis
da memória
luzeiros marinhos sobre a pele - peixes
que se enforcam com a corda de noctilucos
estendida nesta mudança de estação
Al Berto
ou de como, ano após ano, nos vamos renovando. sacudindo poeiras. polindo detalhes. conquistando novos territórios. preenchendo os dias de memórias e sorrisos. uns mais amarelos que outros. tirando fotografias que queremos para sempre nas nossas paredes. coleccionando momentos que esperamos um dia nos sirvam de consolo. como se tudo não fosse afinal pouco mais que apenas um ciclo. como se um dia não acabássemos da mesma forma. ou como se a tão desejada chegada da primavera não fosse sempre prenúncio do inverno que se avizinha. teimamos em ignorar a sabedoria alheia. afinal o que sabem os outros das nossas estações? lutamos por fingir que agora é que é. este é sempre o ano em que vamos quebrar a rotina. inventar novos caminhos. descobrir o desconhecido. pelo menos é nisso que acreditamos quando sopramos mais uma vela. é isso que pedimos ao soar de última badalada. talvez para alguns seja apenas uma questão de hábito. talvez para outros seja mesmo um momento de crença. o certo é que nos dá a esperança que agora nada será como antes. que hoje é o dia em que tudo (re)começa a sério.
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