Durante muito tempo pedi que pudesse parar. Pedi momentos de sossego. Pedi que partilhássemos apenas o silêncio. Precisava de uma ilha em que conseguísse respirar e repôr energias. Queria apenas admirar os detalhes. Focar cada pormenor para que mais tarde me servissem de alento. Alimentar-me dos pequenos nadas. Deslumbrar-me com cada sorriso. Render-me a cada suspiro. Guardar na memória cada palavra largada aqui e ali. Preencher os vazios com os pequenos nadas. Saber que tudo era espontâneo e sentido. E sentir que esse pouco era para mim o alento bastante para o dia-a-dia. Mas hoje é diferente. Preciso do movimento continuo. Preciso sentir que o mundo ainda gira. E peço que não me deixes parar. Para não ter de pensar. Peço que me preenchas de estórias que permitam evadir-me. Peço-te palavras que me levem para longe. Não suporto a ideia estar mergulhada nesta escuridão. Preciso dessa tal linha que me una a um mundo alternativo. Em que tudo seja linear. Em que tudo seja (ainda) possível. Preciso fingir que está tudo bem. Preciso agir como se estivesse. Como se não fizesse qualquer sentido falar do que vai cá dentro e focar-me apenas no que se passa aí fora. Como se por momentos eu pudesse não estar cá. Preciso ouvir falar de outras vidas que me façam esquecer a minha. Preciso de outra vida. Que me preencha. Preciso de me deslumbrar novamente com as palavras. De me deixar levar por sonhos. De me deixar convencer que vai passar. Que já passou. Que posso deixar-me dormir sem medo de me desfazer no vazio. Que podemos afinal voltar a partilhar o silêncio.
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